(Ranieri Leal no espetáculo “7 peles”)

Sou um dos poucos sortudos que não acreditou que brincar é coisa apenas de criança (na verdade, isso é mais uma dessas invenções do capitalismo), eu sou um brincante, curioso, falador desde criança, talvez uma mistura de Peterpan com a Emília de Lobato. Nasci e passei minha infância numa cidadezinha da chapada do Araripe, lá no sertão, e, naquele ambiente árido, longe dos grandes centros, com as ruas de chão batido, desprovido de tantos recursos, parecendo cenário de filme, o que nos restava era sonhar e imaginar outros mundos e talvez por isso que eu tenha me tornado tão sonhador, tão cheio de curiosidades, de fome de vida, pois tive que usar muito a fantasia e imaginação para enfrentar todas as adversidades que tínhamos.  Das coisas que mais me faziam feliz era a chegada de um circo na cidade, eu ficava completamente alucinado, sempre dava meu jeito de ir andar atrás do palhaço com suas pernas de pau para ganhar ingressos e esperava ansioso o final de semana para ir assistir todos os números. Por um instante era como se eu estivesse em outra dimensão. O tempo passou, e eu me tornei professor de Biologia em 2001, depois fiz Pedagogia e Mestrado em Gestão e Tecnologias aplicadas à educação. Embora eu sempre tivesse medos, autocrítica severa, eu sempre fui um encantado com a magia da palavra, com a emoção que uma poesia provoca, os sentimentos que a música evoca e a profundidade que uma história ensina, diverte e encanta, e para minha sorte, em 2015, encontrei a companhia de Teatro Griô e fiz o curso “A arte de narrar histórias”. O que eu não sabia era que eu não ia apenas conhecer as histórias, contar histórias, mas, que eu iria escrever uma nova história na minha vida, dessas cheias de emoção, encontros, gente do bem e lugares muito bonitos. Em 2016, fiz a residência artística com a companhia Griô, resultando no espetáculo “Sete Peles”, apresentado na casa da música em Itapoã, Salvador, sob direção de Rafael Morais. Em 2019, fiz a segunda residência artística, e ao final apresentamos o espetáculo “Histórias para acordar o mundo”, apresentado no teatro Eva Hertz no shopping Salvador e no espaço cultural dos Alagados, no bairro Uruguai em Salvador-Ba. E em 2020 sou convidado a integrar o grupo de contadores de histórias da companhia de Teatro Griô e tenho experimentado desde então que contando histórias, eu me transporto para outra dimensão, outro tempo, é como se tudo parasse, abrisse uma fenda no tempo para a história me ensinar, me dizer que caminho seguir, e como devo ser para entender a mim, o outro e o mundo, transformando-me e preparando-me para a maior aventura de todas: ser simplesmente humano!

 

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