(Layno Pedra no espetáculo “Causos de Zé Bocó e Mané Preguiça)

Já fui bocó

Já fui diabo

Já fui morte

Já fui palhaço

Andei de perna de pau

Dancei de saia rosa

Toquei bumbo e rabeca

Cantei samba de roda

Na cidade grande e na zona rural

No teatro elegante e no simples quintal

Pra gente grande e gente miúda

Gente pouca e gente muita

Sou narrador da Companhia Teatro Griô

(Maria Iris no espetáculo “7 peles”)

Eu, sou como as plantas do meu sertão, não largo as minhas raízes por nada dessa vida. Mas, diferentes delas vou além, me estico, mudo as rotas em busca de caminhos novos para reviver o velho. Se caio, me levanto logo. E vou resistindo no tempo, esperando pela água fresca da próxima chuva que um dia vai molhar o chão do meu quintal. Trago na alma o calor e o profundo sol avermelhado que braseia os cenários de minhas memórias.

E assim, sigo passeando entre o real e o imaginário, me entretendo com a vida! Ora estou brincando, ora fincada nos seus apelos mais concretos que ela traz. Na verdade, eu Sou a memória viva, pulsante das marcas de muitas vidas que vieram antes de mim.

Um verdadeiro vulcão das emoções, que dorme

 

(Josi Borges no espetáculo “Yalodê – Histórias Afro-Brasileiras”)

 

Eu sou uma sonhadora.  Sou uma menina com olhos cheios de encanto e alegria por todas as descobertas diárias, por cada história nova que conto e pela arte que faz meu coração pulsar. Eu sou fogo, água, ar e terra. Sou a natureza que se mistura nas minhas memórias, nas cantigas que invento, na dança, no canto, no bordado e nas asas que me permito dar.

Eu sempre gostei de ler histórias, de ouvir histórias e de imaginar histórias, então um dia meu coração desejou contar histórias. E assim se fez! No ano de 2013 eu fiz uma oficina da arte de narrar com o mestre Rafael Morais e me descobri narradora. No ano de 2014 passei a integrar com muita alegria o grupo de narradores da Companhia Teatro Griô, atuando em diferentes espetáculos como: “ Histórias de Mãe Beata”,  “ A velha a fiar”, “Histórias da Árvore Tempo”, “ Sete Peles”, “Um tal de Pedro Malazartes”, “ Minha Aldeia” “ Tringuilim: No Tempo que os Bichos Falavam” e “Yalodê: Histórias Afro-brasileiras”.

Fazer parte da Cia Teatro Griô  é  um grande presente, é  a chance que eu tenho de me  encantar por essa arte, é  a oportunidade de poder viver as histórias e de ser tocada  por tantos ensinamentos e aprendizados, é  sem dúvida uma maneira de ser mais humana e mais feliz na vida.

 

Sou uma eterna buscadora de mim mesma e através do rico manancial existente nas histórias, desperto a cada dia para as múltiplas possibilidades de sentir e do existir.

Minha iniciação no caminho da Arte se deu na adolescência, quando integrei um grupo de Teatro (GT-AFI) em Itabuna, minha Terra Natal, atuando em dois espetáculos “Coisas da Terra” e “Olhos para Ver, Esperança para Construir”. Ali, senti uma enorme conexão com a minha mais profunda essência – ser um instrumento para tocar a alma das pessoas através da arte. A semente estava plantada…

Chegando à vida adulta, me envolvi com uma outra arte – a arte de cuidar. Eu me tornei médica e, posteriormente, psicoterapeuta junguiana. Embora temporariamente afastada da atuação na arte propriamente dita, nunca deixei de ser tocada por ela, pois sempre fui grande apreciadora do Teatro, Cinema, Música, Literatura e da Cultura Popular. Após o nascimento de minha filha, em 2007, me reencontrei e me encantei com o universo das Histórias de Tradição Oral e deixei despertar a narradora que há muito dormia em mim mesma, esperando um lugar e um momento propícios para se expressar.

Desde 2014 integro a Companhia Teatro Griô, encontrando um lugar de pertencimento onde posso conviver e construir coletivamente, ajudando nessa linda missão de manter a tradição da arte de narrar histórias viva, levando beleza e encantamento aos corações das pessoas. 

(Alice Carvalho no espetáculo “No tempo em que os bichos falavam”)

Eu sou Alice Carvalho, contadora de histórias e brincante por natureza. Nasci no Inhambupe, interior da Bahia, onde tive toda a liberdade de crescer brincando na rua com as crianças vizinhas e meus primos, de tomar banho de rio, andar de bicicleta, frequentar os circos e parques que chegavam na cidade, participar das festas populares, quermesses, novenas, festa da padroeira, quadrilhas de São João. Sempre morei na Gameleira, uma ladeira larga e cheia de árvores frondosas e alguns terrenos baldios. Era a rua principal da cidade, tinha o cinema e era por onde passava de tudo, pessoas que iam pra feira, enterros, carroças, boiadas que iam para o matadouro, alunos que iam ou voltavam das escolas, cortejos, procissões. Mas o principal era que tinha muitas crianças e a gente brincava muito. Em época de férias ficávamos brincando até meia noite. Era embaixo das árvores mais frondosas que contávamos histórias e as noites em que faltava energia, a luz da lua e as caveiras de mamão acesas com velas, que os meninos colocavam nos terrenos baldios, preparava o clima para as  histórias de assombração, causos de lobisomem, mula sem cabeça, caipora e visagens, e assim, ficava difícil dormir, e as noites eram cheias de monstros e fantasmas. Em casa, tinha uma radiola de pilha e minha mãe comprava muitos discos de história e de cantigas de roda. Em dias chuvosos de inverno, minha mãe preparava lanche e vinham todos os primos e os vizinhos para ouvirmos juntos. Lembro que a história preferida da maioria era Chapeuzinho Vermelho principalmente quando os caçadores vinham cantando e quando eles abriam a barriga do lobo e salvavam ela e a vó. E também as cantigas do Carequinha (Altamiro Carrilho) e do Topo Gigio. Meus pais sempre incentivavam nossas brincadeiras, leituras, contavam histórias, falavam das memórias da família, contavam da infância deles, das brincadeiras. A família de minha mãe era uma família de músicos e eles sempre tocavam e cantavam em casa e faziam peças de teatro (dramas) que apresentavam com alguns amigos.  Cresci ouvindo essas histórias, em meio a muitas cantorias. Toda tarde íamos todos os netos para a casa de minha vó Alicinha, que ficava na praça matriz e lá, o quintal era nosso paraíso. Lá também morava meu tio Tonico, que foi o ser mais brincante que já conheci e que se divertia criando muitas brincadeiras e aventuras com os sobrinhos. Enquanto isso, nossas mães e minha vó, que tinham o hábito de conversar muito, sentavam em cadeiras na calçada para conversar e muitas vezes relembrar memórias e a gente sempre acabava, vez ou outra, parando para ouvir também essas conversas. Assim, com a família da minha mãe sempre convivi com a música, com a arte, com as memórias. Com meu tio Guega e minha tia Nide, comecei a conhecer a cultura popular, a ir pra forró, reisados, sambas, rezas. Também os banhos de rio, de lagoa. Com meu pai, que foi criado na roça, trabalhando no campo, aprendi a valorizar e admirar a natureza, a olhar o céu e reconhecer o Cruzeiro do Sul, a Estrela Dalva, as Três Marias, a ver as estrelas cadentes, a cuidar das plantas da casa. Saber sobre horas pela posição do sol, apreciar os relâmpagos em dias de trovoada, saber quando vai chover, apreciar as fases da lua, a valorizar as coisas simples da vida, a ser solidária, ajudar o próximo, a valorizar a família e os amigos. 

Assim cresci, brincando pelas ladeiras e becos da minha cidade, e me apaixonei pela cultura popular, por histórias e memórias. Aos 15 anos vim, por vontade própria, estudar na capital. E a única coisa que me prendeu aqui e me fez resistir e não voltar pra minha terra foi o mar, que ainda me fascina até hoje. Mas nunca deixei de voltar pra minha cidade, de conviver com minha família e meus amigos.

Aqui sempre me senti uma “estrangeira”, sempre tive certeza de que não sou da capital, embora goste de morar aqui, e acho que hoje, não escolheria outro lugar para viver. Certa vez, pensando no que fazer para ajudar com as crianças carentes da minha cidade, tive a sorte de ver um anúncio de uma oficina de contadores de histórias. Tomei coragem, agredi a minha timidez e fui até lá. Assim encontrei a Cia Teatro Griô, e finalmente, encontrei meu chão, onde pude me conectar com minhas raízes, me encontrar na “cidade grande.” E nessa Família Griô,  permaneço até hoje.  Fazer parte dessa família é estar sempre me encantando, me surpreendendo, me aprimorando, aprendendo, descobrindo mundos diferentes e crescendo, na minha arte e como ser humano. Tenho certeza de que esse era o mundo que procurava aqui, na “cidade grande,” mesmo sem ter noção do que queria.  É amor pra toda a vida!

(Ivana Pirajá no espetáculo “Yalodê – Histórias Afro-Brasileiras”)

Eu tenho poucas lembranças de minha infância sem que a arte estivesse presente. A música, o canto, a palavra, a escrita e a oralidade continuam vivas em mim, latentes e guiando a minha caminhada nessa existência. A contadora de histórias surgiu a partir de um desejo de aperfeiçoar meu trabalho voluntário com crianças de um hospital e, para minha surpresa, durante a formação com o Teatro Griô, dei início a uma profunda viagem interior. Com o passar do tempo e, para minha surpresa, vi-me com asas, pronta para voar, como um dia, um passarinho me contou que aconteceria. Vieram junto comigo, nesse voo, as narrativas, a poesia, os versos, as melodias, os encontros, os personagens, a descoberta de um corpo vivo e de uma alma disposta a se revelar sem medo dos julgamentos. Andei pelas estradas do circo-teatro, ouvi e contei histórias da árvore-tempo e de Mãe Beata de Yemonjá, me diverti com os causos de Zé Bocó e Mané Preguiça e vivi muitos outros momentos inesquecíveis, como o encontro com Iansã, em Yalodê. As histórias, a experiência do teatro vivo, da palavra simples e genuína e a partilha com todos da Cia Teatro Griô me fizeram florescer, mergulhar em por águas profundas e voar sem a preocupação de chegar a algum lugar. E o meu desejo é que esse passarinho continue a voar por muito tempo, cantando, compondo, dançando e, para além da terra, do céu e do mar, narrando muitas histórias!

(Ranieri Leal no espetáculo “7 peles”)

Sou um dos poucos sortudos que não acreditou que brincar é coisa apenas de criança (na verdade, isso é mais uma dessas invenções do capitalismo), eu sou um brincante, curioso, falador desde criança, talvez uma mistura de Peterpan com a Emília de Lobato. Nasci e passei minha infância numa cidadezinha da chapada do Araripe, lá no sertão, e, naquele ambiente árido, longe dos grandes centros, com as ruas de chão batido, desprovido de tantos recursos, parecendo cenário de filme, o que nos restava era sonhar e imaginar outros mundos e talvez por isso que eu tenha me tornado tão sonhador, tão cheio de curiosidades, de fome de vida, pois tive que usar muito a fantasia e imaginação para enfrentar todas as adversidades que tínhamos.  Das coisas que mais me faziam feliz era a chegada de um circo na cidade, eu ficava completamente alucinado, sempre dava meu jeito de ir andar atrás do palhaço com suas pernas de pau para ganhar ingressos e esperava ansioso o final de semana para ir assistir todos os números. Por um instante era como se eu estivesse em outra dimensão. O tempo passou, e eu me tornei professor de Biologia em 2001, depois fiz Pedagogia e Mestrado em Gestão e Tecnologias aplicadas à educação. Embora eu sempre tivesse medos, autocrítica severa, eu sempre fui um encantado com a magia da palavra, com a emoção que uma poesia provoca, os sentimentos que a música evoca e a profundidade que uma história ensina, diverte e encanta, e para minha sorte, em 2015, encontrei a companhia de Teatro Griô e fiz o curso “A arte de narrar histórias”. O que eu não sabia era que eu não ia apenas conhecer as histórias, contar histórias, mas, que eu iria escrever uma nova história na minha vida, dessas cheias de emoção, encontros, gente do bem e lugares muito bonitos. Em 2016, fiz a residência artística com a companhia Griô, resultando no espetáculo “Sete Peles”, apresentado na casa da música em Itapoã, Salvador, sob direção de Rafael Morais. Em 2019, fiz a segunda residência artística, e ao final apresentamos o espetáculo “Histórias para acordar o mundo”, apresentado no teatro Eva Hertz no shopping Salvador e no espaço cultural dos Alagados, no bairro Uruguai em Salvador-Ba. E em 2020 sou convidado a integrar o grupo de contadores de histórias da companhia de Teatro Griô e tenho experimentado desde então que contando histórias, eu me transporto para outra dimensão, outro tempo, é como se tudo parasse, abrisse uma fenda no tempo para a história me ensinar, me dizer que caminho seguir, e como devo ser para entender a mim, o outro e o mundo, transformando-me e preparando-me para a maior aventura de todas: ser simplesmente humano!

 

 

(Lícia Brasileiro no espetáculo “No tempo em que os bichos falavam”)

 

Lícia Brasileiro, filha mais nova de D. Jacy e Seu Milton, de quem honra e agradece por ter lhe dado a vida, nasceu em Palmeira, na Chapada Diamantina,  vem daí sua intimidade com as águas doces dos rios e das cachoeiras, as pedras, os morros, as árvores, as flores, os bichos e tudo que remete a uma vida simples e natural. Viveu uma infância livre, brincadeiras no quintal da casa da sua Tia Vera, escaladas no “pé de goiaba, lugar preferido para brincar com as primas, lembranças que enchem seus olhos de saudade.

A timidez sempre lhe acompanhou, meio retraída, mas sempre pronta a novas amizades e foi assim até a adolescência. Menina observadora, tinha dentro de si um mundo e adorava viajar nele.  Adulta, cursou Letras na UFBA e trabalhou com crianças e adolescentes por longos anos. Sempre gostou de ler e diz que é movida pela paixão, “Preciso estar apaixonada pelo que faço, senão não tem graça fazer”, foi sempre assim em tudo que realizou ao longo do caminho. Sempre pronta para desafios, adora experimentar as novidades que lhe são apresentadas, principalmente quando estão relacionadas a trabalho.

Aprendeu ao longo da vida que amizades longas devem ser construídas bem devagarzinho para dar o tempo devido da confiança se instalar. Suas amizades são duradoras e adora conversar sobre filmes, livros, histórias, mistérios, músicas e formas saudáveis de viver. Não suporta injustiças sejam quais forem. Acredita que o mundo é para acolher e não para excluir, “ou cabe todo mundo ou não cabe ninguém”. E desse jeito ela vai seguindo o seu caminho.

Sempre ouviu muitas histórias de vida dentro da família. Histórias fortes, tristes, alegres, de coragem e persistência. Essas histórias ficaram impressas nas suas lembranças que vez ou outra emergem e a fazem lembrar da sua origem com respeito e afeto. Lembra com saudade das histórias que os adultos contavam sentados em suas cadeiras nas calçadas, geralmente histórias de assombração, “era muito bom”.  Quando criança gostava de ler alto para sua mãe ouvir, tinha poucos livros, então lia e relia as mesmas histórias que já sabia de cor e ainda ouve as risadas da sua mãe com as pronúncias carregadas da letra “R”. Lembra, com carinho, do primeiro livro, “O gato de botas”, que ganhou de presente do seu pai. Leu e releu infinitas vezes e sonhava visitar o castelo do Marques de Carabás. Visitou várias vezes!!

 

Um dia recebeu uma mensagem sobre um curso de Narração de Histórias, achou tão linda a proposta que se sentiu chamada e foi conhecer a Companhia Teatro Griô. Gostou tanto que continuou participando de vários cursos, oficinas até chegar a residência artística ministrada por Rafael e Tânia e hoje é uma integrante dessa Companhia que tanto respeita. O Teatro Griô chegou no momento em que buscava um novo sopro para renovar as atividades que já exercia na sua vida profissional e que sopro maravilhoso, foi uma mudança total não só na sua profissão de Professora como na sua vida. O encontro com as narrativas de tradição oral proporcionou para ela uma cisão de mundos e a partir daí percebeu o quanto é grandioso descobrir o que cada narrativa fala para o si mesmo, o quanto tem de cada um nas histórias que são narradas, afinal “não é por acaso que as histórias procuram o seu narrador!”.

 

E assim ela continua aprendendo todos os dias com essa arte que encanta, transforma e cura. Para onde ela vai, não sabe dizer, só sabe que quando uma história segura o seu narrador pela mão e o leva a conhecer floresta, vales, montanhas, desertos, que o ajuda a atravessar rios e mergulhar em águas profundas não tem mais como voltar para o início da estrada, agora é seguir o caminho e ir aceitando o convite das narrativas para as maravilhosas aventuras.

 

 

(Andrea Coelho no espetáculo “Os Sábios de Chelm”)

Sou uma apaixonada pelas histórias desde a infância. Deitada no colo paterno ouvia-o contar histórias que me faziam viajar por reinos distantes e a dialogar com personagens mágicos. Fazia-o contar e recontar, afastando-o de sua missão de fazer-me dormir.  Mas, logo aprendi a ler e pude realizar esta jornada por mim mesma, mergulhando em um oceano de novas e inúmeras possibilidades. Através das narrativas, a menina traçou seu processo de crescimento e aprendizado vivenciando maravilhosas aventuras, fazendo descobertas surpreendentes, visitando lugares encantadores e convivendo com figuras inesquecíveis.  Já adulta, assisti ao espetáculo “Véu de histórias” do Teatro Griô, encantando-me pelo Grupo. Matriculei-me no curso de narradores de histórias, na semana seguinte, e deixei-me tocar profundamente pelas narrativas de tradição oral que despertaram a narradora que dormia no interior do meu ser, despertando-a e fazendo-a crescer a cada processo criativo vivenciado com a Cia no decorrer destes sete anos. Narradora que me acolhe em todos os momentos da minha vida, inspirando-me ao autoconhecimento e a busca por novas experiências para o aprimoramento do meu ser, do meu ser artístico, profissional e coletivo. Que faz vibrar a arte em mim, fazendo reverberar no exercício profissional da Arteterapeuta. Gratidão ao Teatro Griô que ascendeu em mim o desejo de novamente mergulhar neste oceano repleto de novas e inúmeras possibilidades!