(Lícia Brasileiro no espetáculo “No tempo em que os bichos falavam”)

 

Lícia Brasileiro, filha mais nova de D. Jacy e Seu Milton, de quem honra e agradece por ter lhe dado a vida, nasceu em Palmeira, na Chapada Diamantina,  vem daí sua intimidade com as águas doces dos rios e das cachoeiras, as pedras, os morros, as árvores, as flores, os bichos e tudo que remete a uma vida simples e natural. Viveu uma infância livre, brincadeiras no quintal da casa da sua Tia Vera, escaladas no “pé de goiaba, lugar preferido para brincar com as primas, lembranças que enchem seus olhos de saudade.

A timidez sempre lhe acompanhou, meio retraída, mas sempre pronta a novas amizades e foi assim até a adolescência. Menina observadora, tinha dentro de si um mundo e adorava viajar nele.  Adulta, cursou Letras na UFBA e trabalhou com crianças e adolescentes por longos anos. Sempre gostou de ler e diz que é movida pela paixão, “Preciso estar apaixonada pelo que faço, senão não tem graça fazer”, foi sempre assim em tudo que realizou ao longo do caminho. Sempre pronta para desafios, adora experimentar as novidades que lhe são apresentadas, principalmente quando estão relacionadas a trabalho.

Aprendeu ao longo da vida que amizades longas devem ser construídas bem devagarzinho para dar o tempo devido da confiança se instalar. Suas amizades são duradoras e adora conversar sobre filmes, livros, histórias, mistérios, músicas e formas saudáveis de viver. Não suporta injustiças sejam quais forem. Acredita que o mundo é para acolher e não para excluir, “ou cabe todo mundo ou não cabe ninguém”. E desse jeito ela vai seguindo o seu caminho.

Sempre ouviu muitas histórias de vida dentro da família. Histórias fortes, tristes, alegres, de coragem e persistência. Essas histórias ficaram impressas nas suas lembranças que vez ou outra emergem e a fazem lembrar da sua origem com respeito e afeto. Lembra com saudade das histórias que os adultos contavam sentados em suas cadeiras nas calçadas, geralmente histórias de assombração, “era muito bom”.  Quando criança gostava de ler alto para sua mãe ouvir, tinha poucos livros, então lia e relia as mesmas histórias que já sabia de cor e ainda ouve as risadas da sua mãe com as pronúncias carregadas da letra “R”. Lembra, com carinho, do primeiro livro, “O gato de botas”, que ganhou de presente do seu pai. Leu e releu infinitas vezes e sonhava visitar o castelo do Marques de Carabás. Visitou várias vezes!!

 

Um dia recebeu uma mensagem sobre um curso de Narração de Histórias, achou tão linda a proposta que se sentiu chamada e foi conhecer a Companhia Teatro Griô. Gostou tanto que continuou participando de vários cursos, oficinas até chegar a residência artística ministrada por Rafael e Tânia e hoje é uma integrante dessa Companhia que tanto respeita. O Teatro Griô chegou no momento em que buscava um novo sopro para renovar as atividades que já exercia na sua vida profissional e que sopro maravilhoso, foi uma mudança total não só na sua profissão de Professora como na sua vida. O encontro com as narrativas de tradição oral proporcionou para ela uma cisão de mundos e a partir daí percebeu o quanto é grandioso descobrir o que cada narrativa fala para o si mesmo, o quanto tem de cada um nas histórias que são narradas, afinal “não é por acaso que as histórias procuram o seu narrador!”.

 

E assim ela continua aprendendo todos os dias com essa arte que encanta, transforma e cura. Para onde ela vai, não sabe dizer, só sabe que quando uma história segura o seu narrador pela mão e o leva a conhecer floresta, vales, montanhas, desertos, que o ajuda a atravessar rios e mergulhar em águas profundas não tem mais como voltar para o início da estrada, agora é seguir o caminho e ir aceitando o convite das narrativas para as maravilhosas aventuras.

 

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